quarta-feira, 25 de julho de 2012

CPI faz cerco a Cachoeira, mas chega à metade dos trabalhos ainda sem rumo

Sem resultados concretos, a CPI do Cachoeira , que investiga a relação do bicheiro que dá nome à comissão com políticos e agentes públicos e privados, completa três meses nesta quarta-feira (25) ainda sem ditar o rumo das investigações. Até agora, ouviu envolvidos no grupo do contraventor, mas sem conseguir destrinchar toda a pilha de documentos que possui, entre eles os dados das quebras de sigilo dos governadores de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT). O tucano foi quem sofreu o maior desgaste político com as investigações da CPI e deve voltar a depor no segundo semestre para explicar a venda da casa onde o bicheiro foi preso, em 29 de fevereiro.


A CPI também enfrenta dois desafios em agosto, quando retoma os trabalhos: vencer as desconfianças sobre os seus resultados práticos e minimizar o impacto das eleições que vão esvaziar o Congresso e, por consequência, as sessões da comissão.
O senador Álvaro Dias (PSDB-PR), líder tucano no Senado, cobra maior rapidez no acesso aos dados das quebras de sigilo aprovadas na comissão e afirma que o maior desafio dos trabalhos da CPI é vencer o descrédito. “A CPI é forte porque quebra sigilos. Mas elas demoram muito a chegar de forma efetiva à comissão. Nisso se vê uma clara mão do governo, que tem ligação com os bancos e com os órgãos de controle. Agora, essa imposição de que toda CPI acaba em pizza só interessa aos desonestos. As pessoas não conhecem a CPI por dentro. Então a comissão já começa com o desafio de fazer com que as pessoas acreditem nela”, afirmou Dias.
Para o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), vice-presidente da CPI, a comissão cumpriu seu papel nesses primeiros três meses pelo impacto que teve na cassação do senador Demóstenes Torres e pela manutenção da prisão do Cachoeira, que foi preso em fevereiro e teve vários pedidos de habeas corpus negados pela Justiça.
“A CPI criou um ambiente que conseguiu levar adiante processos contra diversos políticos. Só ela tem essa autoridade. Deu visibilidade ao esquema Cachoeira, que não era conhecido, e evitou a soltura do contraventor da prisão. Além disso, foi fundamental para a cassação do senador Demóstenes Torres”, disse Teixeira.
Agora, segundo ele, o papel da CPI será desvendar “todo o sistema econômico do esquema Cachoeira e processar quem tiver foro especial”. Na sua volta, na próxima semana, a comissão terá de marcar as datas dos depoimentos do ex-presidente da Delta Fernando Cavendish; do ex-diretor do Dnit Luiz Antônio Pagot; e do ex-diretor da Dersa Paulo Preto. E ainda votar nova convocação do governador Perillo, que, segundo reportagem da revista Épocateria recebido propina para liberar pagamentos do governo do Estado à Delta. O acordo, segundo a revista, envolveria a venda da casa do governador, onde Cachoeira foi preso. Perillo nega as acusações e disse não ter relação com o bicheiro.
O deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), considerado do grupo de “independentes” da CPI, também vê avanço nesses três meses, principalmente no que diz respeito à rede de negócios do bicheiro. “Há a demonstração de que se reduziu a impunidade no Brasil, de que não há blindagem de culpados. Em relação ao Cachoeira, os efeitos são visíveis. Os habeas corpus que ele havia conseguido foram cassados e ele continua preso. Cada vez se revela mais esse entrelaçamento do esquema com a empresa Delta, a lavagem dinheiro por empresas fantasmas e o absoluto insucesso de se partidarizar a CPI, graças à liberdade da imprensa.”
Para o deputado do PDT, no entanto, é preciso desenvolver mecanismos que acabem com o mau uso do dinheiro público, que ponham fim nos esquemas de corrupção. “Agora temos que começar a refletir sobre uma questão interessante. Por que é que quando acaba uma CPI vem outro escândalo em seguida? Por que não se desenvolve uma forma de se acabar com a prática da corrupção? Não se mata no nascedouro esse desvio dos recursos públicos?”, afirmou.
Mas o grande desafio da CPI nesses próximos três meses são as eleições de outubro . Muitos deputados e senadores membros da comissão devem deixar Brasília já em agosto para se dedicar às campanhas de seus colégios eleitorais, o que deve provocar um esvaziamento das sessões e prejudicar os trabalhos de investigação. O presidente da Comissão, o senador Vital do Rêgo, já deu seu recado: quem não puder deve sair e indicar um substituto. Se não houver prorrogação, a data limite para o encerramento da CPI é 4 de novembro.
IG


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