sexta-feira, 31 de maio de 2013

Opinião: Juro e eleição

Esta sexta-feira espremida entre feriado e fim de semana promete ser agitada nos mercados financeiro e de capitais. Os operadores passaram o Corpus Christi com dois números novos em casa. Hoje, teremos a noção mais clara da alteração de humor causada por esses algarismos tão próximos: seis e cinco décimos. Foi de 0,6% a variação do Produto Interno Bruto (PIB) nos três primeiros meses do ano em relação ao quarto trimestre de 2012, resultado revelado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na quarta-feira pela manhã.

Embora já tenha feito muito estrago no dia do anúncio, colaborando para que o Ibovespa fechasse em baixa de 2,5% e o dólar em alta de 1,9%, o baixo crescimento do PIB ganhou nova importância diante de outro valor, anunciado à noite pelo Banco Central (BC): a alta de meio ponto percentual na meta da Selic, a taxa básica de juros do país, que passou a ser 8%. Ainda vamos ouvir muito sobre os efeitos desses dois números. E não só hoje.
O PIB aponta tendências, mas é basicamente um retrato do passado. A decisão do BC fala mais do futuro: quando aumenta a Selic, indica que a atividade econômica será forçada para baixo e a inflação será contida. Mas a escolha da autoridade monetária também revela a análise sobre o que aconteceu nos últimos tempos, sobretudo quanto ao comportamento dos preços. Os aumentos ficaram acima do esperado, do contrário não se teria decidido, de forma unânime, por uma alta de juros acima das expectativas de analistas de mercado.

A carestia também apareceu de forma clara no resultado do PIB. O consumo das famílias cresceu apenas 0,1% no trimestre, abaixo do resultado geral, e por consequência puxando-o para baixo. Isso demonstra corrosão dos ganhos de renda conseguidos pelos trabalhadores.
Não é possível ter certeza se as decisões do BC se pautam em algum grau por preocupações políticas. O fato é que, coincidentemente ou não, o aumento de meio ponto na Selic é adequado ao calendário eleitoral. É melhor para o governo encarar os efeitos negativos de um crescimento menor agora, e, em troca, conseguir já daqui a alguns meses, mas sobretudo no próximo ano, um nível de crescimento econômico mais forte em ambiente de preços estáveis.
Isso é o que desejam todos — ou quase todos. Resta saber se a dose forte no aumento da Selic será suficiente para acalmar a inflação.


Correio Braziliense

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