domingo, 4 de maio de 2014

Cid Gomes e a violência do voto

A situação da segurança pública nunca foi tão delicada no Ceará. Os índices de homicídio são considerados epidêmicos e boa parte deles tem ligação direta com o narcotráfico, que vem crescendo por causa da “política de guerra” adotada que mais parece fermento para a situação. Que tipo de trabalho as forças de segurança estão realizando para resolver isso? Pelo visto, nenhum. Isso, porque o narcotráfico está cada vez mais aparelhando verdadeiros Estados paralelos e nas áreas dos traficantes a polícia não entra (não só por medo...).
Desde a greve da polícia, o Ronda vive uma “greve branca” sem precedentes na história brasileira. Quem teve a oportunidade de interagir com esses policiais desde então, viu que sua falta de ação se explica, principalmente pela omissão. Um colega que precisou acioná-los me confidenciou o que um dos policiais lhe sugeriu fazer por conta da sua omissão: “Chama a imprensa e diz que isso aqui (o Ronda) não presta!”. Isso nos elucida uma questão importante: o governador já não tem poder sobre suas tropas.
Isso traz consequências seríssimas aos cidadãos: se o Estado não cumpre o seu papel, outros assumem seu lugar. Não à toa, o número de linchamentos vem aumentando, as pessoas começam a fazer justiça com as próprias mãos por terem a compreensão de que o Estado não a fará. Da mesma forma, o narcotráfico assume o seu lugar em muitas áreas. Tudo isso me leva a crer que o Estado já não detém o Monopólio da Violência Legítima, isto é, no Ceará, outros entes que não apenas o “Poder oficial” estão se tornando aptos a exercer o papel de polícia.
A conjuntura política estadual complica mais a situação: o governador pertence a uma oligarquia tradicional do estado e briga para fazer sucessor em 2014 por causa do pífio legado que deixará. Cid se gaba por ter contratado boa parte dos policiais que estão na ativa, mas esquece de citar sua falta de gerência sobre eles. Fecha os olhos para o fato de que a disciplina militar desagrada boa parte dos novos policiais (há caso de processo militar contra soldado que se esqueceu de prestar continência ao superior).
Além disso, apesar de ter ciência de que parte significativa da violência provém do narcotráfico (ele próprio destacou isso no programa Roda Viva da TV Cultura), não propõe políticas sérias sobre isso, como, por exemplo, a regulamentação do uso da maconha (que representa mais de 2/3 dos negócios do tráfico), que provavelmente reduziria o lucro dos traficantes e a violência proveniente dele.
O problema dessas medidas é que são polêmicas e gerarão desgaste a Cid, assim, para garantir sucessor, o governador decidiu tirar a responsabilidade de seus ombros e “militar” por uma demanda que lhe renda popularidade: a redução da maioridade penal, mesmo sabendo que as prisões são chamadas “faculdades do crime” e que os atos infracionais de adolescentes representam apenas cerca de 10% do total de crimes. Márcio Kleber Morais/Sociólogo

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