No dia 24 de março relembrou-se os 170 anos de nascimento do padre Cícero Romão Batista, que incompreendido, foi duramente maltratado a seu tempo, justamente por aqueles que deveriam assomar como paladinos da caridade cristã. Nascido no Crato, depois de ordenado padre, foi designado para cuidar das pouquíssimas almas na localidade de Juazeiro, lugar hostil da região caririense. Ali chegado, como que por predestinação divina, de logo entendeu que daquela localidade não mais sairia e que os desejos de ser missionário em outras terras, antes aventados, sumiram de sua vontade por forças transcendentes.
Em 1889 ocorreram fatos extraordinários envolvendo a beata Maria de Araújo e o então jovem padre Cícero. O chamado “Milagre da Hóstia” não agradou à cúpula da Igreja no Ceará. A hierarquia da Igreja, liderada em fins do século XVIII pelo bispo dom Joaquim José Vieira, não poupou o vigário de grandes constrangimentos. Mas, “Meu Padim Ciço”, apesar de tudo, está consagrado como santo pela devoção do povo nordestino. Mesmo sem ter ascendido à glória dos altares por decreto canônico da cúria romana, é venerado pelas multidões que a cada ano acorrem ao Juazeiro em homenagem ao Taumaturgo do Nordeste. Por outro lado, foi escolhido o “Cearense do Século” em disputa com figurões da política e da economia.
Passados quase cem anos de sua morte, apesar de muitos “sábios e entendidos” da hierarquia da Igreja ainda titubearem na aceitação da santidade do padre Cícero em razão de uma burocracia atrasada, não poucos são aqueles que compreendem a importância do homem religioso que ele foi, sobretudo de sua postura de obediente servidor da Igreja, não obstante as muitas perseguições de que foi alvo. Mais do que isto, compreende-se hoje que a atuação política de Cícero, em vez de prejudicá-lo, configura dado que o beneficia em processo de reabilitação junto ao Vaticano. Foi essencialmente pacificador numa terra de conflitos sangrentos entre coronéis que se digladiavam por poder político e dominação econômica.
Padre Cícero foi profeta completo. Soube governar, admoestar, rezar, conduzir as levas de homens rudes dos adustos sertões nordestinos aos pés da Mãe de Deus das Dores. É importante, destarte, compreendermos essa mensagem de fé, de esperança e de decisão do padre Cícero em servir ao seu povo não apenas por intermédio da oração, mas da ação concreta na sociedade de seu tempo.
Barros Alves
barrosalvespoeta@gmail.com
Jornalista e membro da Sociedade Cearense de Geografia e História/O POVO
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