sábado, 25 de outubro de 2014

PT conseguiu: dividiu um Brasil

Ganhe ou perca as eleições o PT já cumpriu a sua missão: dividiu o Brasil em dois e institucionalizou o maniqueísmo como política de Estado.
Consegui industrializar o “nós” a ponto de transformá-lo em símbolo da vontade, da virtude, da generosidade, da luta contra o preconceito, da compaixão pelos pobres, da igualdade - cujo corolário definitivo não é nenhuma mudança de fundo na sociedade mas apenas executar um projeto de poder. Um aprendiz de PRI, a versão mexicana do poder pelo poder.
Conseguiu cravar no fantasmagórico adversário -“eles”- o exato oposto do que ele diz representar: a maldade, o egoísmo, o ódio, a luta de classes, o racismo, a homofobia e tudo que o imaginário possa estruturar como resumo do mal.
O PSDB, numa análise atilada do filósofo José Arthur Gianotti simplesmente perdeu a identidade como partido, por não ter conseguido se articular como oposição.
O PT conseguiu, através de seu agressivo discurso maniqueísta, empurrar para uma frente oposicionista informal setores dispersos da sociedade descontentes com a amoralidade difusa e macunaímica que marca o seu período de 12 anos no governo.
O Brasil foi levado a dividir-se politicamente e eleitoralmente não mais em PT e PSDB mas em PT e anti-PT.
À informal frente oposicionista juntaram-se setores da direita ideológica mas inorgânica, alguns direitistas caricaturais, os marinistas, defensores da sustentabilidade ambiental, e até mesmo uma Frente de Esquerda Democrática, formada por intelectuais gramscianos, esquerdistas desiludidos com o fisiologismo e jogo sujo do PT, que declararam em manifesto:
( “) Nas eleições de 2014, nos decepcionamos com o PT. A campanha petista no primeiro turno valeu-se de táticas e subterfúgios que desonram o bom debate. Caluniou, difamou e agrediu moralmente a candidatura de Marina Silva, sob o pretexto de que seria preciso fazer um “aguerrido” confronto político. Atropelou regras procedimentais e parâmetros éticos preciosos para a esquerda e a democracia. ( “)
E considere-se que quando os esquerdistas democráticos escreveram esse manifesto, Lula ainda não havia comparado o adversário aos nazistas e ao rei Herodes, em alguns de seus surtos de alucinação onde combate, como dom Quixote, os moinhos de vento que ele mesmo criou - aplicando provavelmente por instinto e não por conhecimento, o princípio leninista de “acusar os outros daquilo que você faz”.
O mais nocivo populismo caracteriza-se exatamente por interditar o debate substituindo-o, sempre que possível, por uma chuva de calúnias na cabeça do adversário, que passa a ser tratado não como um defensor de propostas diferentes, mas como um criminoso a ser eliminado.
Seja como for, o País que emergirá das urnas domingo será outro. Ou melhor, será um dos dois: ou aquele que procurará a modernidade livrando-se da canga do atraso e da mistificação ou aquele que fará das ilhas de atraso, da pobreza e do assistencialismo a reserva de mercado para garantir sua perpetuação no poder. Aos populistas e demagogos, nunca convém que os descamisados possam comprar suas próprias camisas.
Por Sandro Vaia/Blog do Noblat 

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