A política brasileira alcançou a tal nível de desfaçatez que os dois candidatos que chegaram ao segundo turno não se preocuparam, até aqui, em apresentar um programa de Governo. No âmbito nacional, deu-se o mesmo comportamento. Sob pressão das circunstâncias, Aécio Neves ainda chegou a apresentar um arremedo de programa no apagar das luzes do primeiro turno. Dilma Rousseff, nem isso.
Entre os concorrentes mais relevantes, a candidata Marina Silva foi a única que apresentou um programa de Governo com começo, meio e fim. Ironicamente, foi abatida em pleno voo com a munição cedida pelo que estava escrito em seu projeto. Com o texto mal finalizado, a candidata acabou tendo que mudar algumas das ideias expostas. Fato que foi explorado pelos rivais.
Dessa forma, ficou fortalecido o argumento cínico daqueles que defendem não apresentar nenhum plano de Governo para não cair em contradições ou gerar polêmicas. Ou seja, o melhor é não ter nenhum plano e não ficar preso a nenhuma ideia escrita. É a lógica do absurdo: evita-se ter qualquer projeto para se evitar as críticas dos adversários.
Em vez dos partidos, do pensamento vanguardista e corajoso que estimula as mudanças profundas, prevalece a mediocridade. A primeira atitude de um candidato costuma ser contratar uma pesquisa para saber “o que o povo quer” ouvir. É evidente que o pensamento médio é dotado de obviedades. Então, na campanha, os candidatos, com suas falas inodoras, só emitem platitudes e lugares comuns.
Os marqueteiros substituíram os partidos, as ideias, os projetos de futuro. Tudo é ensaiado somente para as câmeras das TVs. Não há pensamentos originais. Estes estão proibidos, se é que algum dos candidatos os têm. Afinal, podem gerar insatisfação em um ou outro grupo de eleitores mesmo que sejam capazes de conquistar outro tanto.
Sem um programa de Governo bem elaborado e detalhado, o vencedor chega ao poder sem estar amarrado a nenhum compromisso. Tudo o que falou na campanha fica para trás. As falas eleitorais são como gases que rapidamente se dissipam. Essa má educação cívica precisa ser duramente combatida pelos cidadãos.
Editorial/O Povo
Nenhum comentário:
Postar um comentário