quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Vereadora se recusa a ler trechos da Bíblia em sessão na Câmara de Araraquara (SP)

Uma vereadora de Araraquara, a quase 300 km da capital paulista, causou polêmica na primeira sessão ordinária da Câmara Municipal ao se recusar a ler trechos da Bíblia antes do início das sessões.
O artigo 148 do regimento interno da Casa determina que o presidente deverá abrir a sessão sempre com a frase "sob a proteção de Deus, iniciamos os trabalhos" e, posteriormente, um vereador deverá prosseguir com leitura de um trecho do livro sagrado para os cristãos.
"O trecho a ser lido deverá ter aproximadamente seis versículos", diz o parágrafo quarto do regimento. O documento ainda estabelece que seja feito um rodízio de vereadores para a leitura, obedecendo a ordem alfabética. A Câmara Municipal de Araraquara possui 18 vereadores.
Em discurso feito na sessão que abriu a nova legislatura, Thainara Farias (PT), 22, afirmou que mesmo sendo católica e frequentar a igreja ela não leria trechos da Bíblia no plenário da casa, em respeito ao princípio de laicidade do Estado brasileiro.
"Eu fiz a opção de não ler o trecho da Bíblia aqui neste plenário, sendo católica, batizada, e frequentadora da Igreja Católica"
Thainara Farias, vereadora pelo PT.

"O Brasil é um Estado laico, e um Estado laico significa que o país ou nação tem uma posição neutra no campo religioso", disse Thainara, que foi eleita no ano passado para o seu primeiro mandato como vereadora, sendo a primeira mulher negra a ocupar uma cadeira na Câmara Municipal da Araraquara, no interior de São Paulo.
"Então, se não deveríamos permitir a interferência religiosa no Estado como parlamentares, deveríamos fazer nossas orações em particular, porque senão em vez de chamar o vereador aqui para ler um trecho da bíblia poderíamos chamar um vereador para vir aqui encarnar um caboclo e falar a palavra também de outras religiões", concluiu.
Em entrevista ao UOL, Thainara Farias contou que a fala feita na primeira sessão ordinária da Câmara gerou muita polêmica, inclusive nas redes sociais da vereadora. "Muita gente elogiou a minha postura, mas teve muita gente me chamando de herege, dizendo que era mentira que eu era católica, que frequentava a igreja", contou.
Thainara contou que sua fala causou desconforto também dentro da Casa. "Os vereadores me olharam torto, fizeram cara feia, mas todos me respeitaram. O presidente chegou a dizer que eu poderia ter me recusado a ler e não ter falado nada sobre isso na tribuna", disse.
O regimento interno diz que caso algum dos vereadores não pretenda fazer a leitura deve retirar o nome da "lista elaborada para esse fim". "Mas eu achei importante expressar isso na tribuna para que as outras religiões se sintam acolhidas. Tem que haver a representação de outros segmentos porque aqui é a casa do povo", afirmou.
A vereadora conta ainda que desde que se recusou a ler a Bíblia na Câmara, os demais vereadores --quatro deles reconhecidamente religiosos -- tem enfatizado falas de cunho religioso. "Todos tentaram falar de Deus para me atacar", acredita.
Ela contou ainda que está conversado com líderes religiosos para propor um projeto de lei sobre o tema. "Tem que conversar, conseguir adeptos, apoio, porque 17 dos 18 vereadores certamente votariam contra um projeto que propusesse retirar essa parte do regimento", disse.
UOL

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