segunda-feira, 16 de março de 2015

Qual a graça de falar do PT

Não tem graça nenhuma escrever sobre o PSDB. Ninguém fica torcendo pelo PSDB, ninguém é fanático pelo PSDB ou contra o PSDB. É um partido que não desperta paixões. Um partido de isopor.

Escrever sobre o PT é muito mais divertido. Primeiro, porque o PT é cheio de contradições maravilhosas. Você pode passar o dia citando-as, e ainda vai sobrar para a janta. Segundo, porque, se você elogiar o PT, por sutil e discreto que seja o elogio, um monte de gente vai xingá-lo das coisas mais curiosas.

Outro dia, escrevi que o Lula é um dos políticos mais sensíveis da história do Brasil, e um leitor me enviou um e-mail com uma única frase: "Além de ferrenho defensor dos homossexuais, o senhor é comunista".


Agora me diga: por que dizer que o Lula é um político sensível significa que eu seja comunista? Ou ferrenho defensor dos homossexuais?

Se bem que sou mesmo. Ferrenho defensor dos homossexuais, digo, não comunista, embora goste daquela famosa maldição de Marx, referindo-se aos seus furúnculos: "A burguesia vai lembrar das minhas pústulas até a hora da sua morte!"

Seja.

A terceira razão por que é divertido escrever sobre o PT é que os petistas ficam genuinamente furiosos, quando você critica o partido. Eles acreditam mesmo que o PT pretende salvar os pobres e tudo mais. Aí eles tentam debochar ou chamam-no de direitoso, capacho dos patrões, coxinha, tucano.

E aí voltamos ao PSDB.

O PSDB, hoje, só existe por causa do PT. Porque grande parte da população brasileira (neste momento, tenho certeza de que a maioria) detesta o PT.

Pense nas eleições do ano passado. Lembre-se de quando o Campos morreu.

Quando o Campos morreu, as pessoas se agarraram nele. Ou: na sua imagem. Ele começou a aparecer na TV com aqueles seus olhos cor de piscina, junto com a mulher chorosa e os filhos vários, um homem tão bom, que havia falecido tão jovem, e os brasileiros pensaram: "É ele! Ele é que tinha de ser o nosso candidato para nos livrar dessa chatonildice dos petistas!" Então, a representante do Campos na Terra, a Marina, decolou nas pesquisas, e houve quem achasse que ela venceria no primeiro turno.

Aí os petistas fizeram aquele criterioso trabalho de destruição moral da Marina, no que eles são ótimos, e ela ficou fora do segundo turno, e quem apareceu?

O Aécio.

Ele estava em terceiro, chegou em segundo, quase empatando, e hoje venceria fácil. Aécio Neves tornou-se uma alternativa, e por uma só razão: porque não havia outra.

Na verdade, poucos dão bola para o Aécio Neves e quase ninguém dá bola para o PSDB.

O que importa é o PT. O PSDB só existe em oposição ao PT. Se não houvesse PT, o PSDB não passaria de um tucano empalhado.

A manifestação deste domingo foi contra o PT, mais do que contra o governo ou contra a Dilma. Dilma no governo, sem o PT, e muito menos gente protestaria. O PT é o alvo. Contra o PT é muito mais divertido.

Por David Coimbra/RBS


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