segunda-feira, 30 de março de 2015

A fúria de Cid Gomes

Até os aliados mais próximos acreditavam numa retratação de Cid Gomes. O que se viu foi o oposto: o ex-governador não apenas confirmou sua fala da semana anterior, ao dizer que o parlamento abriga “300 ou 400 achacadores”, mas desafiou os deputados do alto da tribuna e apontou para o próprio presidente da casa, Eduardo Cunha, intitulando-o líder desse grupo. Passado o turbilhão dos fatos e o afastamento do ministério, a questão a martelar na cabeça de muita gente é: o que teria motivado Cid Gomes nesse dia de fúria? Nessa altura do campeonato podemos apenas especular. 
Mesmo reconhecendo as dificuldades num ano de múltiplos ajustes, Cid Gomes, um político experiente e articulado, acreditava que seria o titular de um ministério forte – ledo engano. A sua pasta foi a que mais sofreu no processo de cortes, além de investimentos paralisados, alguns programas centrais da área como o Pronatec e o Fies estão enfrentando crise. Se decidisse ficar onde estava o desgaste seria maior. Somado a isso, lembramos que há pouco tempo teve frustrado a sua ideia de criar um novo partido, com o objetivo explicito de minar o poder do PMDB e ampliar a sua própria liderança.
Dessa forma, orientado pelo irmão, Ciro Gomes, a quem já confessou ser o seu conselheiro, o sobralense ousou, descumpriu a ordem da presidente e passou a construir a imagem de um antipolítico, que, ao contrário da maioria, mantém a coerência, não se apega a cargos e tem uma missão maior que seus interesses particulares. Não se trata aqui de discutir a veracidade dessa imagem, mas se questionar onde isso o levará: ao enfrentar publicamente o maior partido do país, Cid Gomes, nesse momento de crise política, pode se tornar uma referência nacional de político moderno e engajado na transformação do sistema político ou ter começado a pavimentar seu ostracismo. A depender diretamente das relações da presidente com o PMDB daqui para frente. 
Cleyton Monte
cleytonvmonte@gmail.com
Doutorando em Sociologia / UFC

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