domingo, 25 de janeiro de 2015

Os trabalhos de Cid Gomes

Três meses atrás, Cid Gomes (Pros) dizia à imprensa que, terminado o mandato de governador, iria morar por um ano ou dois nos Estados Unidos como consultor do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Hoje, é não só ministro da área classificada pela presidente Dilma Rousseff como prioritária no seu segundo mandato, como trabalha sob orientação do Planalto numa missão que petistas consideram de grande importância para o projeto do partido: enfraquecer o PMDB no Congresso.
Em novembro do ano passado, Cid declarou que tinha sugerido a Dilma a formação de uma frente parlamentar, ou de um partido, cuja força numérica no Congresso diminuísse o poder de pressão do PMDB. “Que muitas vezes beira até a chantagem”, nas palavras do então governador.

Nomeado por Dilma para o cobiçado ministério da Educação, um dos maiores orçamentos de Brasília, Cid divide com Gilberto Kassab, indicado para o igualmente poderoso e capilarizado ministério das Cidades, a tarefa de formar uma nova base aliada na qual o PMDB não tenha, como hoje, a capacidade de contrariar interesses do Planalto.

Kassab, que criou o PSD em 2011, atua para refundar o Partido Liberal (PL), enquanto Cid busca articular partidos menores em ordem unida pelo governo. Correligionário de Cid, um deputado federal cearense disse ao O POVO que o ex-governador já vem conversando com membros do PSB, seu ex-partido, para fazê-lo voltar à base aliada, depois da saída causada pela candidatura de Eduardo Campos a presidente.

Os movimentos de Cid e Kassab já se fizeram sentir entre as lideranças do PMDB, que disseram à Folha de S. Paulo na semana passada que é “desastrada” a iniciativa da presidente de tentar diminuir o peso do partido.

Dada a tensão crescente entre petistas e peemedebistas, manifestada atualmente na disputa entre os dois grupos pela presidência da Câmara dos Deputados (onde Dilma terá uma base menor do que tinha no primeiro mandato), o desempenho de Cid na função de articulador poderia lhe garantir uma condecoração de nível presidencial em 2018, segundo avalia um integrante da cúpula petista cearense.

“O Cid é bom jogador de xadrez. Mede os movimentos a médio e longo prazos. O projeto dele é ousado. 

É se tornar de confiança, ter relação pessoal com a presidente, construir uma disputa por dentro e se constituir candidato em 2018 com o apoio da presidente”, afirmou esse petista.


Mas, observa a fonte, Cid obviamente não seria o único interessado e teria de enfrentar gente veterana do petismo. “Já há internamente no Palácio um movimento silencioso do Aloizio Mercadante (ministro-chefe da Casa Civil), que disputa ser o nome apoiado pela presidente, e o Cid estaria, a médio e longo prazos, se movimentando em torno dessa construção. 

Vai se viabilizar? É uma interrogação”.


SAIBA MAIS

Depois da reunião em que a cúpula do PMDB tratou da articulação de Cid Gomes e Gilberto Kassab pela formação de uma base aliada “alternativa” ao partido, o ministro Pepe Vargas, das Relações Institucionais, negou que os dois agissem por ordem do governo.

”Só não tem como amarrar as pernas de Cid e Kassab na mesa para que os dois parem de fazer política”, disse o ministro.

Essa versão, porém, não coincide com a de um membro da cúpula petista cearense ouvido pelo O POVO. “Há claramente um movimento com a bênção do Planalto que envolve diretamente Cid e Kassab”.

Para o deputado Danilo Forte (PMDB-CE), os que querem enfraquecer o PMDB “querem ser o MacGyver, querem viver perigosamente”.
O POVO

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