domingo, 27 de janeiro de 2013

A lição da tragédia em Santa Maria


O que ocorreu em Santa Maria, infelizmente, é uma tragédia anunciada, nós não precisamos ter dons premonitórios para ver que isso está prestes a ocorrer em grande parte das boates do país e em muitos locais de eventos.
Um exemplo real e prático do que estou dizendo é o caso de uma amiga, arquiteta, que foi levar seu filho ao teatro, ao chegar no local deparou-se com algumas aberrações:
1º. um único acesso;
2º. o teatro para crianças encontrava-se no 1º pavimento, até aí não há problemas, desde que se respeitasse a acessiblidade e as recomendações do Corpo de Bombeiros. Respeitou-se? resposta, NÃO;
3º. o acesso para o primeiro pavimento dá-se por uma escada helicoidal, aquela tipo caracol, pois é, nada acessível, perigoso não apenas para crianças ou portadores de necessidades especiais, mas para qualquer pessoa que precise utilizá-las;
4º. para se ter acesso ao último nível das cadeiras é necessário, pasmem: baixar uma escada embutida para então subir, detalhe, essa minha amiga levou sua mãe, idosa, junto com seu filhinho para assistir a peça, imaginam a cena?;
5º. como mãe, cidadã e profissional da área (arquiteta) minha amiga fez uma denúncia ao Ministério Público, Corpo de Bombeiros, Prefeitura do Recife (Dircon) perguntem-me se o local foi interditado? Não, foram feitos até agora questionamentos básicos ao estabelecimento e o teatro, famoso aqui em Recife, continua funcionando, isso é uma tragédia anunciada.
Saindo desse caso, vamos às boates, podem dar uma volta no Recife Antigo, em Boa Viagem e não vão encontrar algo muito distinto da boate de Santa Maria, infelizmente isso é comum no país inteiro, estabelecimentos com apenas um acesso, sem portas de emergências que abram pra fora, sem uso de materiais que evitem a propagação do fogo ou da fumaça, sem a quantidade suficiente de extintores e sem pessoal treinado para situações de pânico. Evidente que temos exceções, tanto de órgãos públicos que cumprem seu papel, como de donos de estabelecimentos conscientes e responsáveis que tomam todas as precauções, mas não são a maioria.
Algumas boates tem um teto tão baixo que consigo tocar com as mãos, e olhe que não sou nenhum Michael Jordan. A irresponsablidade dos donos dos estabelecimentos, somadas a ignorância e a também irresponsabilidade dos órgãos públicos responsáveis por fiscalizar, não apenas isso, mas também por dar o alvará de funcionamento a esses locais, simplesmente é uma declaração de tragédia futura, com data, números de registros e autorização públicas para acontecer.
Perdoem-me os parentes e amigos das vítimas, que sob quaisquer aspectos, nesse caso específico são apenas vítimas de fato, não apenas dessa tragédia terrível, mas também, do descaso dos donos de estabelecimentos e dos órgãos responsáveis pela fiscalização e autorização do funcionamento desses locais de eventos.
Espero sinceramente que isso seja um ponto de partida para uma melhoria geral na especificação de segurança desses locais, na fiscalização periódica pelas entidades responsáveis, não podemos ver uma cidade apenas como o que se arrecada de IPTU ou ISS, se Recife pretende ser uma cidade turística, antes de tudo, tem de aprender a ter mais cuidado com os seus cidadãos.
Desejo de coração que essas vítimas não tenham morrido em vão.
Por Robson Lopes

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